A função da escola é educar, e especificamente no ensino médio preparar o aluno para o vestibular, fazendo com que o mesmo possa ingressar numa faculdade, se formar e trabalhar servindo a sociedade, porém não é isso que vemos atualmente na maioria das escolas públicas. Digo isso com base na experiência que eu vivi onde estudei, na Escola Estadual Zalina Rolim.

E.E Dona Zalina Rolim
Devido a Progressão Continuada que está em vigor no estado de São Paulo, muitos alunos vão avançando as séries ano após ano sem ter o conhecimento necessário. Nem mesmo estar com as notas na média pode retê-lo, basta ter um número suficiente de presenças para o mesmo ser aprovado. Porém ao chegar em uma série que é necessário tirar notas mínimas para ser aprovado o aluno fica estagnado na mesma série por um, dois ou até três anos. No Zalina eu lembro que as salas do ensino fundamental eram dividas da seguinte maneira: 5ª A e 5ªB, 6ªA e 6ªB, 7ªA e 7ªB, porém na 8ª série as salas iam da letra A até a letra D, isso porque acumulavam os alunos dos anos anteriores que não conseguiam passar para o 1º ano do médio. O governo justifica a Progressão Continuada como um meio de evitar a repetência e a desistência dos alunos, e realmente isso tem acontecido, mas os alunos estão chegando sem a bagagem necessária para fazer um bom ensino médio, e isso não é só culpa do sistema de aprovação(vale lembrar que a Progressão Continuada tem base nos princípios de Piaget, Emília Ferreiro e Paulo Freire), mas tambem da falta de estrutura da maioria das escolas públicas de São Paulo.

Paulo Freire
Quando eu cursei o 3º ano minha sala tinha mais ou menos 30 alunos sendo a menor da escola, as outras possuiam em média 40 a 45. Para um professor é quase impossível conseguir manter essa quantidade de alunos atentos a matéria, ainda mais quando são jovens de 15,16 e 17 anos acostumados com a velocidade das redes sociais, dos anuncios de TV, das músicas e de todo mundo que os rodeiam em um ritmo frenético, e para “ajudar” os mesmos tem de ficar em média 5 horas dentro de salas de aula que muitas vezes possui iluminação precária e péssima acústica(algumas salas do Zalina nem porta possuíam!), pelo menos havia ventiladores nas salas do Zalina, mas não sei se há em todas as escolas públicas do estado.
Outro problema é a falta de funcionários, são necessários inspetores para controlar o trânsito de alunos dentro das dependencias da escola, senão pode ocorrer situações semelhante a da E.E Professora Neyde Apparecida Sollito, onde os vidros foram quebrados pelos próprios alunos e a indisciplina é algo corriqueiro devido a falta de profissionais -ver link no final do post - . No Zalina, a mesma inspetora que abria o portão também controlava o transito de alunos e ajudava no preparo da merenda, creio que era por isso que no intervalo algumas alunas aproveitavam a ausência dos funcionarios para fumar seu “cigarrinho” matinal dentro do banheiro. Minha turma nunca entrou na sala de informática, porque a política da escola exigia um instrutor para podermos usá-la, ma só havia para o período da tarde então ficamos de mãos abanando, e nem sempre que precisávamos a bibliotéca estava aberta, pois a bibliotecária tinha de ajudar na secretaria da escola. É mais do que óbvio que uma escola sem funcionários para todas as funções não funcionará como deve!
Eu me pergunto quem gostaria de trabalhar neste tipo de ambiente? Se você perguntar a qualquer pessoa que está decidindo com o que vai trabalhar, provavelmente a área da educação, ainda mais no setor público, será uma das últimas opções. Será que vale a pena receber em média R$7,00 por aula para trabalhar sem uma estrutura adequada para lecionar, sem ser respeitado pelos alunos e sem apoio suficiente do governo? Muitos acreditam que não, e é por isso que há falta de professores nas redes públicas de ensino(no Zalina, fiquei o 1º e o 2º ano do ensino médio sem aulas de biologia por falta de professores).
Para muitos, os professores que ainda trabalham não tem interesse nos alunos, só querem ganhar seu dinheiro sem se estressarem dando aulas livres e levando-os para a sala de vídeo. Eu não creio nisso, e me lembro que na greve dos professores de 2010 as reivindicações do corpo docente eram, além da reposição salarial,melhores condições de trabalho para educar com dignidade os alunos, porém ao ligar a TV para ver as notícias o SPTV apenas disse que a greve atrapalhou o trânsito da cidade e sujou as ruas, acho que esqueceram de dizer qual era o motivo da manifestação, aliás a TV tem esquecido de dizer muitas coisas que realmente importam.
Bem, como vocês puderam ver, há diversos fatores que cooperam para o desastre do ensino público: o sistema de aprovação, as condições precárias das salas, a falta de funcionários e a desvalorização dos professores. Do meu ponto de vista, para mudar essa situação o governo deveria investir pesado em educação ao invés de gastar dinheiro público na construção de estádios, além de valorizar mais os professores que para mim é uma profissão “sagrada”. Poderia ser aprovada uma lei onde os políticos deveriam por obrigação matricular seus filhos em escolas da rede pública, queria ver se a situação não iria mudar, mas acredito que seja inconstitucional, eles poderiam pelo menos ter o bom-senso de fazê-lo. E quem sabe com uma estrutura funcional a Progressão Continuada possa funcionar como idealizou Paulo Freire, com o intuito de educar e formar cidadãos.
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Links Complementares:
Artigo sobre a Progressão Continuada: http://168.96.200.17/ar/libros/anped/1306P.PDF
Paulo Freire: http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Freire
Falta de funcionários na E.E Professora Neyde Apparecida Sollito: http://portal.aprendiz.uol.com.br/2011/06/28/falta-de-acao-do-poder-publico-deixa-escola-estadual-de-sp-em-situacao-caotica/
Testemunho de Professor na greve de 2010: http://www.dudutomaselli.com/greve-professores-sao-paulo/